quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Brasil é quinto país que mais investe em energias limpas

O relatório Tecnologia e Inovação 2011 – Unindo Desenvolvimento e Tecnologias para Renováveis, divulgado nesta terça-feira, 29/11, pela Unctad – Conferência da Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento apontou que o Brasil foi o quinto país que mais investiu em energias limpas no último ano, aplicando US$ 7 bilhões no setor. O primeiro lugar do ranking ficou com a China, que investiu US$ 49 bilhões em renováveis em 2010, seguida por Alemanha, Estados Unidos e Itália. 

Apesar da boa notícia, o documento traz um alerta para os brasileiros: o país está fazendo avanços tecnológicos significativos no setor das novas renováveis – assim como os demais países do Bric –, mas ainda deixa de aproveitar grande parte do seu potencial em energia solar e eólica

Isso porque, atualmente, o Brasil se concentra nos setores que o relatório denomina de “energéticos maduros” e englobam, por exemplo, os biocombustíveis e as hidrelétricas. Como consequência, as novas renováveis, como solar e eólica, ficam em segundo plano nos investimentos, apesar de todo o seu potencial. 

AS RENOVÁVEIS NO MUNDO Ainda de acordo com o relatório da ONU, os investimentos globais em energias renováveis também cresceram, com um aumento de mais de 539% em seis anos. Isso porque, enquanto em 2004 foram aplicados US$ 33 bilhões no setor, no ano passado o montante para investimentos foi de US$ 211 bilhões. 

Apesar do grande crescimento, o documento destaca que ainda precisam ser investidos centenas de bilhões de dólares em tecnologia para que o mundo consiga usufruir de toda a capacidade que possui no setor de geração de energia limpa, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde as renováveis apresentam uma oportunidade real de reduzir a pobreza energética




Por que o Brasil precisa de redes inteligentes de energia


A eletrificação permitiu uma série de transformações tecnológicas nas cidades e na sociedade, que é cada vez mais dependente de energia elétrica, de preferência fornecida sem interrupções. Os avanços tecnológicos continuam surgindo com o passar dos anos. No entanto, a própria cadeia de geração, transmissão e distribuição de energia não se beneficiou de todo esse progresso. "A sociedade digital ainda é baseada em tecnologias dos anos 1950. O sistema de energia precisa ser modernizado", afirmou Cyro Vicente Boccuzzi, vice-presidente da Enersul - Empresa Energética de Mato Grosso do Sul, em reunião do Comitê de Energia realizado pela Amcham - Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos, em São Paulo, na semana passada. 

Boccuzzi se refere às smart grids, redes elétricas inteligentes, compostas por uma série de tecnologias que permitirão à rede tomar decisões - como consumir o mínimo quando o preço do quilowatt-hora está alto - de forma autônoma. "Trata-se da maior transformação desde que a eletricidade foi criada e que mudará profundamente toda a lógica do setor e dos negócios", afirmou o executivo. Segundo ele, uma das condições fundamentais para que as redes inteligentes comecem a ser usadas é uma política energética que incentive a modernização do setor, com regras para que as novas tecnologias não produzam impactos indesejáveis no preço. As tarifas seriam dinâmicas, de acordo com o horário de uso e da dificuldade de geração de energia. 

Além disso, Boccuzzi define uma rede inteligente como uma "cesta" de tecnologias. As principais delas são: 
- sensores de transformadores; 
- computadores e softwares avançados; 
- sistema de telecomunicação de alto desempenho; 
- medidores de energia; 
- sistema de geração de energia em pequena escala, como placas solares; 
- equipamentos eletrodomésticos com alto desempenho de comunicação e 
- carros elétricos. 

"A indústria automotiva é o grande vetor que está viabilizando armazenamento de energia em quantidade", afirmou. Para ele, a limitação para as smart grids ainda está na capacidade de armazenamento de energia para abastecer a rede. Mas o problema está sendo solucionado por pesquisas, principalmente, da indústria automotiva. 

Na Europa, as redes inteligentes já são uma realidade. Um bom exemplo vem da Alemanha, onde o governo concede incentivos aos cidadãos que instalam placas solares em suas casas, compra a energia produzida nessas residências e vende para o abastecimento de carros elétricos. Desse modo, seria possível que cada cidade tivesse uma solar usina própria (leia mais em Usina dentro de casa). Lá também é possível que os clientes programem sua casa para que usem a energia de tarifas mais adequadas ao bolso. É possível definir quais equipamentos serão ligados em quais horários, de modo a evitar o sobrecarregamento da rede e os períodos de preço mais alto. 

O principal motivo que leva a Alemanha e outros países europeus a investir em eficiência energéticapor meio das smart grids é o de "limpar" sua matriz de energia, baseada principalmente em termelétricas. Para o Brasil, que tem uma matriz considerada limpa, já que a maior parte de sua energia é produzida a partir da água, qual seria, então, o sentido de instalar redes inteligentes? 

O principal é atender o crescimento da demanda por energia com eficiência e qualidade. De quebra, também resolveriam um grande problema: o desperdício de energia muito elevado em comparação a outros lugares do mundo. "As smart grids são inevitáveis nesse mundo globalizado. A América Latina e o Brasil não podem ficar de fora. Aqui elas precisam fazer sentido social e econômico a longo prazo", disse. 

Para Guilherme Mendonça, diretor da Divisão de Negócios Smart Grid da Siemens, líder no Brasil na área de automação e proteção elétrica, como a oferta de energia não pode crescer infinitamente no modelo atual, a solução será a eficiência energética que as smart grids oferecem. "A tendência é que as mesmas pessoas consumam cada vez mais potência de energia. Por isso, é preciso aumentar a capacidade de disponibilizá-la", argumentou. Para ele, o maior desafio do país está na distribuição - que, até agora, foi a área que menos investiu na inteligência da rede - e na implementação da medição eletrônica

Mendonça apontou vantagens que essas tecnologias podem trazer para o Brasil, como a melhora na qualidade do fornecimento de energia e a diminuição dos custos com a operação das redes. Também lembrou os diversos compromissos que cidades de todo o mundo assumiram para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. "Implementar smart grids pode ser uma medida de redução das emissões", apontou. E alertou: "Elas são uma tendência global. Sem inteligência nas redes não haverá condição de viver no ambiente urbano". 


FONTE: Planeta sustentável abril

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